Sua Dor é Minha Dor: O Eco da Angústia no Sistema Familiar
Minha cliente chegou para a sessão imersa em uma dor que parecia grande demais para caber em seu corpo. Há poucas semanas, uma pessoa que ela ama profundamente, seu alicerce, recebeu a suspeita de uma doença grave. O mundo dela parou. O pânico se instalou, trazendo consigo um choro incontido e o medo paralisante de um futuro que, de repente, se tornou uma página em branco e assustadora.
Como se regula um sofrimento assim? O primeiro passo é sempre o acolhimento. É validar essa dor, oferecer uma escuta sensível que abrace cada medo, cada lágrima. Mas, ao longo das semanas, o corpo dela começou a falar o que a alma gritava: uma herpes dolorosa surgiu, fruto da baixa imunidade. A angústia e a ansiedade se tornaram suas companheiras constantes.
Diante disso, o olhar sistêmico nos convida a perguntar: o que esse sintoma está nos dizendo? Seria um padrão de lealdade oculta à dor do outro? Uma culpa inconsciente? Um desejo de partilhar o fardo, de sentir junto, de um amor tão profundo que beira o cego? A resposta é complexa, pois a dor dela não era apenas dela.
O Porta-Voz da Dor Familiar
Na terapia sistêmica, entendemos que não existe sofrimento individual. Um sistema – e a família é o nosso primeiro e mais poderoso sistema – é sempre maior que a soma de suas partes
Muitas vezes, a pessoa que manifesta o sintoma mais visível – a angústia, a doença física, a ansiedade – é, na verdade, o porta-voz da dor de todo o sistema. Ela é a antena sensível que capta e expressa aquilo que os outros membros, por diversas razões, não conseguem ou não se permitem sentir. Ela não é "o problema"; ela é o sinal de que o sistema inteiro está sofrendo.
Quando o Vínculo Adoece Junto
Para ilustrar, pense em um vínculo muito forte, como o de irmãos gêmeos ou de uma parceria de vida. A identidade de um está profundamente entrelaçada na do outro. Não é apenas "eu" e "você", mas um "nós" que define quem são no mundo. A ameaça existencial a um deles não é apenas a dor de talvez perder o outro; é a dor da própria estrutura do "nós" que ameaça se romper.
A angústia, nesse contexto, é a dor do próprio vínculo. O relacionamento é o verdadeiro protagonista, pois é ele que nutre e é dele que emana tanto a nossa maior força quanto a nossa mais profunda vulnerabilidade
A Dança Silenciosa da Família em Crise
Diante de uma tempestade, a família instintivamente se reorganiza. É uma dança silenciosa e, muitas vezes, inconsciente. Papéis mudam da noite para o dia: quem se torna o cuidador oficial? Quem se afasta para não sentir a dor de perto? Quem se cala, engolindo o próprio medo para parecer forte?
Novas alianças e triângulos emocionais se formam para tentar gerenciar a ansiedade avassaladora
Encontrando a Cura no "Nós"
Se você se identifica com essa sensação de carregar um peso que parece ser seu, mas que ecoa algo muito maior, saiba que a cura também é relacional. Sob a ótica sistêmica, a solução não está em "consertar" o indivíduo que sofre, mas em fortalecer os vínculos, abrir a comunicação e encontrar os recursos que a família já possui para atravessar a crise unida.
Entender essas dinâmicas em sua própria vida é o primeiro passo para transformar a dor. É parar de se ver como o problema e começar a se enxergar como parte de um sistema que busca, acima de tudo, o equilíbrio e o amor.
Se essa reflexão tocou sua alma e despertou o desejo de compreender melhor os olhares que curam e os que adoecem em sua vida, saiba que este é um espaço seguro para essa exploração. Estou aqui para caminhar com você nessa jornada de descoberta e fortalecimento dos seus vínculos mais preciosos.
Cida Medeiros - Terapeuta Sistêmica
Fontes:
Miller, A., & Hardy, K. V. (2011). Manual do instrutor para Terapia familiar integrativa com Kenneth V. Hardy, PhD. Psychotherapy.net.
Miller, A. (2010). Manual do instrutor para Terapia familiar boweniana com Philip Guerin, MD. Psychotherapy.net.
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