sexta-feira, 13 de junho de 2025

As Marcas Silenciosas de um Amor Imperfeito: Entendendo o Trauma Materno

 



As Marcas Silenciosas de um Amor Imperfeito: Entendendo o Trauma Materno

Sabe, em meus mais de 30 anos como terapeuta, tenho visto de perto como as primeiras relações da nossa vida moldam quem somos. E, sejamos sinceros, a relação com a mãe, muitas vezes idealizada, pode ser também a fonte de feridas profundas e silenciosas: o trauma materno.

Não se trata de culpar ninguém, mas de compreender que nem toda mãe teve as ferramentas para oferecer o amor e o amparo que um filho necessita. Às vezes, por suas próprias dores e histórias não resolvidas, elas podem ter deixado marcas invisíveis, mas poderosas.

O Que Fica Quando o Amor Dói?

As consequências desse tipo de trauma são variadas e podem se manifestar de formas que nem imaginamos. Talvez você sinta uma dificuldade persistente em confiar nas pessoas, um medo constante de ser abandonado, ou uma insegurança que te impede de ir atrás dos seus sonhos. Pode ser que você se sinta sempre aquém, buscando aprovação externa a todo custo, ou que tenha padrões de relacionamento que se repetem de forma dolorosa.

Muitas vezes, essa dor se traduz em ansiedade, depressão, problemas de autoestima ou até mesmo somatizações físicas. É como se houvesse um roteiro interno, escrito na infância, que continua a ditar suas reações e emoções na vida adulta.

Como Perceber Essas Marcas em Você?

O primeiro passo é a consciência. Observe seus padrões.

  • Você se sente frequentemente culpado(a) por coisas que não são sua responsabilidade?
  • Tem dificuldade em estabelecer limites e dizer "não"?
  • Busca incessantemente a aprovação dos outros?
  • Sente uma sensação de vazio ou que algo fundamental está faltando em sua vida?
  • Repete padrões de relacionamento onde se sente desvalorizado(a) ou negligenciado(a)?
  • A raiva ou a tristeza sem motivo aparente são suas companheiras constantes?

Esses são alguns dos sinais de que há algo a ser olhado com mais carinho dentro de você.

O Cuidado Que Cura e Liberta

A boa notícia é que, por mais profunda que seja a ferida, a cura é possível. O caminho não é fácil, eu sei, mas é libertador. Cuidar dessas marcas exige coragem para revisitar o passado, compreender a dinâmica que se estabeleceu e, principalmente, reescrever sua própria história.

É um processo de ressignificação, de dar voz à dor que foi silenciada e de, finalmente, permitir-se sentir e curar. É sobre construir uma nova base para sua identidade, baseada no amor-próprio e no reconhecimento do seu próprio valor, independente das feridas do passado.

Em meus mais de 30 anos como terapeuta, tenho acompanhado de perto a jornada de muitas pessoas, e sei que a cura não é uma linha reta. Nas abordagens terapêuticas, especialmente na psicanálise, compreendemos que a "aceitação" e o "honrar" – termos que por vezes aparecem em outras linhas de trabalho, como nas constelações familiares – só se tornam genuínos e saudáveis após um processo profundo de elaboração. Não se trata de "engolir" a dor ou a injustiça, mas de "vomitar" o que é tóxico, o que não te pertence, o que impediu seu próprio florescer.

É na distinção clara entre quem você é e quem sua mãe foi ou pôde ser que reside a verdadeira liberdade. É quando você se apropria da sua identidade, dos seus valores e da sua essência, que pode, de fato, "tomar a mãe" – não como uma dívida ou uma submissão, mas como a fonte da vida que, agora, você tem a liberdade de viver plenamente, à sua maneira. É um ato de maturidade, de autonomia, onde o respeito reside na sua própria integridade.

Se ao ler isso, algo aí dentro tocou em você, se fez um sentido profundo, talvez seja o momento de buscar apoio. A psicanálise, com sua capacidade de mergulhar nas camadas mais profundas do psiquismo, oferece um espaço seguro para essa jornada de autodescoberta e cura.

Acredite: você não precisa carregar sozinho(a) o peso do que não foi resolvido. A vida pode ser mais leve, mais plena e mais sua.

Você se identificou com algum desses pontos? Deixe sua reflexão nos comentários.

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