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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Quando o amor esbarra em algo que não vemos

 


A porta interna que não abre: quando o amor esbarra em algo que não vemos


Tem uma sensação que eu conheço tão bem, que às vezes parece que mora no meu corpo há anos:
aquela mistura de querer, mas não conseguir.

Querer amar.
Querer se aproximar.
Querer permitir que alguém entre.

Mas, no instante em que o coração dá um passo, algo dentro de mim fecha a porta.
É quase físico.
Uma trava.
Um peso no peito.
Como se um vigia invisível dissesse:
“Melhor não.”

E por muito tempo, eu achei que era só insegurança, falta de confiança, ou qualquer uma dessas coisas que a gente repete para tentar se convencer.
Mas não era.

Com o tempo — e muita terapia, estudo, quedas, entendimentos e recomeços — percebi que essa porta fechada não era minha.
Era da minha história.
Era da minha família.
Era de coisas que aconteceram muito antes de eu nascer.

E essa foi uma das descobertas mais estranhas e libertadoras da minha vida.


✦ Quando o corpo ama, mas o sistema não permite

Eu falo muito sobre isso nos meus atendimentos:
não é que você não queira se relacionar.
Não é que você não mereça.
Não é que você não seja suficiente.

É que, em algumas famílias, existe uma espécie de contrato silencioso:
“Ficamos juntos para sobreviver.
E ninguém entra.”

Esse acordo nasce, muitas vezes, do trauma.
E trauma não é só o que feriu.
Trauma também é aquilo que nos fez fechar.

No meu caso, houve a morte da minha mãe.
Um acidente.
Um vazio.
Um mundo que virou de cabeça para baixo.
Mas, mesmo antes disso, já havia tantas outras perdas no sistema dela…
Tantas mortes, tantas dores, tantos silêncios…
Que meu corpo, de algum jeito, aprendeu que amor pode virar ausência.
E ausência dói.

Então, quando o amor se aproxima hoje, o corpo lembra de ontem.
Ele acha que está me protegendo.
E fecha.


Eu não sou a única. E talvez você também não seja.

Depois de tantos atendimentos, cursos, constelações, estudo da teoria do apego e agora Bowen…
eu vi um padrão:

Quando uma família vive muita dor, ela se fecha para o mundo.
E, sem perceber, fecha também seus filhos para o amor.

Alguns efeitos costumam aparecer:

▸ medo de se entregar
▸ relações que não duram
▸ atração por pessoas indisponíveis
▸ sensação de “prisão interna”
▸ bloqueio na hora de avançar
▸ culpa ao escolher um parceiro
▸ sensação de estar traindo a família ao se afastar

É como se uma parte da gente dissesse:
“Se eu amar alguém, eu saio do lugar onde deveria estar.”
E a família, sem querer, reforça isso no campo emocional.

Mas sabe a parte bonita?
Nada disso é imutável.
Nada disso é sentença.
E nada disso significa que você está quebrado.

Significa apenas que você está carregando uma história que não é só sua.


E quando a gente começa a enxergar… algo muda

Eu descobri que, quando entendemos de onde vem esse bloqueio:

— do trauma
— da lealdade ao sistema
— da história dos nossos pais
— das perdas que nossa família não conseguiu elaborar
— ou daqueles triângulos que nos puxam para um lugar que não é nosso…

…a porta interna começa a destrancar.
Devagar.
Com gentileza.
Com presença.
Com ajuda.

E é lindo quando isso acontece.


Talvez você esteja aí, lendo isso, e pensando:

“Meu Deus… isso parece comigo.”

Se sim, fica comigo na próxima semana.
Essa série é para nós — para quem tenta amar com correntes invisíveis puxando o peito.
Para quem sente que está pronto para viver algo novo, mas não sabe como atravessar a porta.

E, claro…
se em algum momento você sentir que quer olhar para isso com mais profundidade, mais cuidado, mais afeto…
eu estou aqui.
Às vezes, uma conversa abre o que anos de silêncio fecharam.

Até o próximo capítulo da série.
Com carinho,
Cida Medeiros