A Metáfora do Rio e da Semente
Numa terra distante, havia um rio. Não era um rio comum, mas um rio que corria com a memória de todas as paisagens que havia tocado. Em seu leito, carregava pedras arredondadas pela jornada, galhos que outrora foram verdes, e a quietude dos lugares mais profundos. Ele amava seu trajeto, a forma como se movia, a força de sua corrente. E, principalmente, amava uma grande rocha que se tornou seu ponto de referência, um ponto fixo no qual ele sempre se chocava, se moldava e, de alguma forma, encontrava seu ritmo.
A rocha, por sua vez, sentia a pressão e a constância do rio. Ela se via como o ponto de estabilidade e o destino inevitável daquela correnteza. Sua existência se definia pela presença e pela força da água que a esculpia.
Certo dia, o rio percebeu que, por mais que sua corrente moldasse a rocha, o fluxo em si estava se perdendo. As águas se agitavam em círculos viciosos ao redor daquela imensa estrutura, e a dor de chocar-se contra ela era a única sensação que o rio reconhecia como familiar. Ele sentia, em suas profundezas, uma sede por águas que nunca havia tocado, por paisagens que só existiam na memória ancestral. Mas o medo era imenso. O que seria dele sem a rocha que o guiava? Como ele saberia para onde ir sem o atrito que definia seu curso? A rocha também sentiu a mudança. Ela se perguntava o que seria sem o rio para lhe dar sentido, para sentir-lhe a vida correndo sobre sua superfície.
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